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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Próximo Encontro (último do ano): 15/12/2012


C O N V I T E

O Ishtar - Espaço para Gestantes (Recife) convida para o próximo encontro do grupo, no dia 15/12/2012.

E mais um ano está acabando. Um ciclo que se fecha, dando início a outro.
Temos muito que caminhar, mas, também, muito que comemorar!
Que tal vir celebrar com a gente?

O último encontro do Ishtar-Recife em 2012 será especial:
 contaremos com casais que passaram pelo grupo e que tiveram seus
 bebês ao longo do ano contando suas histórias de parto. Por isso
 nosso encontro será no PARQUE DA JAQUEIRA. Traga a sua esteira ou
 canga e sua alegria para compartilhar!

Lembrando: Participe do BANCO DE VIDROS DO ISHTAR (parceria com o Grupo “Grávidas e Mamães do Recife” - Facebook). Uma iniciativa voluntária, que visa auxiliar as mulheres na manutenção da amamentação através de doações e empréstimo de vidros adequados ao armazenamento e pasteurização de leite materno.
 
 
Data:    15 de dezembro de 2012
Horário: A partir das 15h
Local:   Parque da Jaqueira, ao lado da capela

Mais informações:
(81) 92694187 / 85019777 / 99427144
 

A espera

Por Mariana Mesquita - http://estadointeressado.blogspot.com.br/2007/11/queria-poder-ter-escrito-sobre-as.html
 
Queria poder ter escrito sobre as muitas sensações que a gravidez me trouxe. Tinha criado até este espaço, mas travei completamente. Apesar do apoio contínuo de Leo, apesar de não ter tido nenhum problema real se configurando, me senti doente e desestimulada durante boa parte das 40 semanas em que Antonio esteve dentro de mim. Agora, me deu vontade de contar do parto. De um momento que pra mim foi especial e mágico, e que eu quero partilhar do jeito falho que puder - porque palavras não devem dar conta desse sentimento...

As contrações começaram do domingo, sete, para a segunda, oito de outubro. Mas o trabalho de parto, a preparação para o parto em si, vieram de muito antes. Começaram no momento em que tive de procurar um obstetra quando, ainda em janeiro, soube que estava grávida.

De posse do meu livrinho do plano de saúde fuleiro, liguei pra minha amiga Paula Viana, membro da Rede de Humanização do Nascimento e referência desde sempre quando o assunto é gravidez. “Leila Katz”, disse ela sem nem ler a lista. Mas meu livrinho só continha nomes de desconhecidos e o plano de saúde não fazia reembolso de consultas. Leo tinha acabado de chegar em Recife, estava desempregado, o bebê não era planejado e a gente não tinha idéia de onde tirar dinheiro para os inúmeros gastos que tinha pela frente. Resolvemos nos virar com os médicos conveniados...

Foi aí que começou a novela. O primeiro médico nos disse que não atendia pacientes obstétricos pelo meu plano, que pagava mal e ainda por cima tinha muitos usuários e poucas vagas disponíveis nos hospitais. Começamos a ficar assustados.

A segunda médica tinha acompanhado a gravidez de uma amiga e foi descrita como ótima, maravilhosa, sensacional. “Só não tivemos parto normal porque a nenê estava laçada”, contou minha amiga. E eu, que não sabia ainda que essa é a desculpa mais comum pros médicos fazerem cesáreas sem necessidade, embarquei na onda. Coitada da minha amiga que até hoje acha que ela é o máximo, e ainda sofreu complicações com a anestesia...

A tal obstetra não era exatamente ruim: deu o telefone de casa, o celular, se deixava incomodar a qualquer hora. E isso foi essencial pra mim porque descobrimos, na primeira ultrassom, que eu estava com um pequeno descolamento de placenta. Acabei obrigada a ficar em casa, tomando doses maciças de progesterona, faltando ao trabalho e sem receber meu salário por mais de um mês, porque o INSS não marcava a perícia. Tempos de liseu, tempos de estresse total. Leo em casa tomando conta de mim, e eu que inicialmente não tinha aceitado bem a idéia de uma gravidez, descobrindo que que queria muito que esse bebê vingasse. Foi só aí, por ironia do destino, que eu comecei a contar à maioria dos conhecidos que estava grávida. Foi só então que comecei a pensar num nome pro bebezinho e torcer pra que ele ficasse forte e saudável dentro de mim.

Superado o problema do descolamento, e após ter assumido para mim mesma que desejava muito ter esse filho, comecei a entrar em tudo que foi comunidade do Orkut sobre gravidez e amamentação. Entrei em contato com minha amiga carioca Ingrid Lotfi, que faz parte de um grupo que eu freqüentava no Rio, os Sambamantes, e também é doula e moderadora de uma lista de discussão via emails chamada Parto Nosso. Ingrid me passou alguns telefones das meninas ligadas à rede Parto do Princípio – mais especificamente, de Marina, de Julia e de Daniela. Eis então que um dia, saltei de pára-quedas numa reunião do grupo para casais grávidos Boa Hora, lá na Várzea.

Era uma situação meio esquizofrênica, porque eu estava sendo acompanhada por uma médica que eu sentia que não era partidária do parto normal e de repente me vi cercada de gente “radical”, muitos dos quais queriam parir em casa mesmo e defendiam a idéia com unhas e dentes. Logo num dos primeiros encontros, Dan passou um vídeo que mostrava uma mexicana parindo em família, dentro d’água. E eu sentia Leo arisco, sem querer discutir o assunto.

Acho que a gestação foi um período bem difícil pra Leo, também. Além de estar numa cidade nova, recém-chegado e recém-casado, tinha que enfrentar o fato de estar sem emprego e lidando com uma mulher pululando de hormônios e insegurança. Ele engordou mais de dez quilos e teve desejos alimentares estranhos. A referência de gravidez que tinha era a da mãe, que quase morreu de eclampsia quando ele tinha dez anos. Tinha um medo absurdo de que eu saísse sozinha, fizesse esforço, passasse mal. Um dia, explodiu chorando e confessou com todas as letras seu medo de que eu viesse a morrer no parto. Talvez por isso preferiu, durante muito tempo, que eu fizesse uma bendita cesárea eletiva e bem programadinha; talvez por isso fosse tão resistente à idéia de freqüentar o grupo de casais – alguns dos quais insistiam na idéia de que tivéssemos o bebê em casa. Como era no horário em que eu trabalhava dando aulas, fui a poucas reuniões – talvez cinco, seis? Destas, ele foi a umas três, se muito. Sempre reclamando que era longe e que eu não devia ficar pegando ônibus, grávida.
No grupo, de qualquer jeito, eu comecei a expor os meus anseios sobre a médica que me atendia e que fugia do assunto, toda vez que eu começava a falar sobre minha vontade de ter parto normal. “Não é hora de falar sobre isso”, dizia ela, no auge dos meus seis meses de gravidez. E eu pensava comigo mesma, “se não é hora agora, quando vai ser?” Acabei escolhendo uma outra médica da lista do plano e marcando consulta, pensando em mudar de obstetra. Foi trocar seis por meia dúzia: ela me viu acima do peso, operada de gastroplastia, e afirmou que eu deveria fazer cesárea de qualquer jeito, porque “não teria condições de fazer força com os músculos da barriga”. Me disse que eu tinha uma separação entre os feixes de músculos – uma “diástase” – e me acenou com um vale-brinde: faria uma espécie de plástica restauradora ainda durante o parto, aproveitando a incisão. Não mencionou o fato, claríssimo até para mim que sou leiga, de que operar uma barriga distendida pela gravidez não deveria dar um resultado muito promissor...

Desisti de trocar de obstetra porque, no dia seguinte, tive uma dorzinha nas costas e, ao recorrer à emergência de um hospital, a médica de plantão achou por bem fazer um “toque” em mim. O exame foi feito com tal delicadeza que passei três dias sangrando. A dor foi tanta e o medo de abortar foi tamanho, que minha pressão subiu instantaneamente – motivo pela qual a tal profissional me recomendou tomar umas injeções para maturar os pulmões do bebê, para prevenir-se contra a minha “eclampsia”. Desesperada, tentei falar com a nova médica por telefone, sem sucesso. No dia seguinte – era uma terça – ela atendeu, meio mal-humorada, e disse que só estaria disponível para me ver, se fosse o caso, na sexta seguinte. Prontamente, liguei para a obstetra anterior, que me tranqüilizou e atendeu de uma forma mais adequada.

Ou seja, voltei à estaca zero...

A obstetra que ficou me acompanhando prosseguiu fazendo um trabalho meio terrorista, minando minha autoconfiança. De acordo com ela, eu seria um caso complicadíssimo – obesa, gastroplastizada, primípara com mais de 30 anos. Para reforçar, pessoas de minha própria família, sem nenhuma formação médica e com boa intenção mas péssimo resultado, vinham me dizer que eu só poderia parir através de cesárea, por conta dos “meus problemas”. Uma delas chegou a perguntar se eu não iria ligar as trompas após Antonio nascer, uma vez que – em sua visão – era muito arriscado eu ter filhos.
Comecei a me sentir uma espécie de doente terminal. Só de exames, encheu-se uma pasta: mais de quinze ultrassons mapeando o estado da criança (sempre perfeita e posicionada para nascer normalmente), parecer cardiológico, hemogramas variados, e uma série absurda de umas cinco curvas glicêmicas feitas ao longo de um único mês (pra quem não sabe o que é, trata-se de um exame chatíssimo que obriga a pessoa a coletar sangue várias vezes ao longo do dia, para medir o nível de açúcar). Me sentia sempre cansada – em grande parte, por causa de uma anemia crônica causada pela gastroplastia que fiz há quatro anos, problema que se intensificou à medida que Antonio crescia. A médica, e Leo, por tabela, começaram a agir como se eu não tivesse condições de fazer nada e como se a cesárea fosse minha única opção para “desovar” a criança. E eu comecei a embarcar nessa onda, é claro. Uma mentira repetida várias vezes acaba virando verdade...

Mas, no fundo, eu não aceitava que as coisas se resolvessem assim.

Continuei freqüentando o Boa Hora e participando das comunidades no Orkut, e quando as pessoas insistiam que eu trocasse de médico, ficava irritada: como faria isso, sem dinheiro? Li um comentário em algum lugar mensurando os custos de um parto domiciliar com um médico famoso, em São Paulo, e o preço ultrapassava dez mil reais: sem chance pra mim. Comecei a internalizar a idéia de que, “um dia”, “no próximo filho”, “quando tivesse me planejado e poupado pra isso”, teria um VBAC (parto normal após cesárea). A sugestão que alguns me davam de que fosse tentar parir num hospital público também me desagradava, e após a última greve que houve aqui em Pernambuco, a sensação foi intensificada quando passaram na tevê várias entrevistas com mulheres que em pleno trabalho de parto não conseguiam vaga em lugar nenhum.

Comentando com Dan, ela me sugeriu novamente que procurasse Melania e Leila Katz. Consegui o contato de Melania no Orkut, deixei um recado pra ela e marquei uma consulta. Quando Leo soube, falou tanto que era absurdo gastar com um outro médico quando a gente tinha plano de saúde, que voltei do meio do caminho e deixei Mel esperando, sem explicação.

Dan foi insistente, e algum tempo depois acabei marcando com Leila, “só pra ouvir dela que o meu caso era de cesárea mesmo”. Leo foi comigo, meio a contragosto, após insistência de Leila, que disse ser muito importante a presença e apoio do marido – e ele, que havia estado comigo em cada consulta e cada exame até então, não poderia mesmo estar ausente.
O primeiro impacto foi chegar a um consultório quase vazio – num mau sentido, o da obstetra anterior parecia sala do SUS de tão lotada, e pra gente a sensação que dava é que tentava ganhar na quantidade e não na qualidade dos atendimentos. Leila passou quase duas horas conversando conosco, fazendo uma anamnese completa não só de meu histórico de saúde, mas da minha família toda e até da de Leo. Tinha um jeito tão tranqüilo que, ao aferir minha pressão, ela acabava caindo pra casa dos 11 x 6 ou perto disso. Fez gozação da quantidade de exames que eu tinha feito, ouviu o relato das minhas mazelas e foi categórica: uma pessoa com anemia não pode perder muito sangue, alguém com diabetes não deve cortar sete camadas de barriga se puder evitar, pressão alta não é por si mesma indicação de cesárea. Examinou os exames todos e constatou que eu NÃO era diabética, NÃO era velha nem gorda demais para ter um bebê, NÃO tinha pressão que justificasse tamanho alarde. “Você tem todas as condições para ter um parto normal”, me assegurou. Fez um exame de toque em mim e soltou a frase que começou a mudar o padrão do que vinha ouvindo até então: “seu colo é maravilhoso, poucas mulheres são assim na primeira gravidez”. Então, eu tinha algo de bom...

Ela ainda conversou sobre como seria possível parcelar o parto, dentro das minhas condições – e o valor, graças a Deus, não era nem perto do que eu temia. De repente, comecei a ver que seria possível, sim, ter meu filho do jeitinho que eu queria.

Leo foi embora meio calado, ruminando o encontro.
Leila viajou para defender a tese de doutorado em Campinas e nós decidimos só “romper” com a médica anterior após sua volta, com medo de eu passar mal no meio tempo e ficar sem assistência. Foi justamente o tempo de haver a “última consulta”: a dita cuja afirmou com todas as letras que, “por causa da minha diabetes e hipertensão”, não haveria outro jeito e a cesárea seria marcada para semana seguinte, no dia 19 de setembro – que depois descobri ser o dia mais conveniente para ela, para não perder consultório e operar “no atacado” várias pacientes, poupando tempo e ganhando mais dinheiro. Dois detalhes me irritaram muito: Antonio teria então cerca de 36 semanas de gestação e, assim, seria um risco muito elevado dele ser prematuro, e ela só queria operar na pior maternidade do meu plano de saúde, onde existem vários relatos de infecção hospitalar e até óbitos, simplesmente pelo fato de ser mais perto e cômodo para ela.

Saí calada, fervendo de ódio. A redenção se deu no lado de fora: Leo estava, finalmente, com tanta raiva quanto eu. Nunca mais pusemos os pés no consultório dessa “profissional”, que nos aguarda até hoje para “marcar o parto”. Nesse dia, eu cantava por dentro: tudo o que queria era que Leo se aliasse a mim, nesse projeto.

Só que não tive tempo de relaxar nem ficar feliz: nessa mesma semana, descobri que meu plano de saúde havia descredenciado o único hospital próximo de minha casa que tinha alguma qualidade no atendimento. Ou eu ia parir em Olinda, bem distante daqui, ou me sujeitava à tal maternidade ruim que a médica anterior queria que eu utilizasse. Corri imediatamente para uma entidade chamada Aduseps - Associação de Defesa dos Usuários de Planos de Saúde (sim, isso existe), contactei os advogados de lá, instauramos uma ação e conseguimos, após alguns dias, uma liminar obrigando o plano a pagar todas as custas do parto no hospital que eu queria. Isso não foi feito sem stress, numa época da gravidez em que tudo que eu queria era descansar e dar os últimos retoques no quartinho do nenê. Enfim, com 39 semanas e pouco, a liminar estava em minhas mãos e nada mais restava que não aguardar o dia D.
As consultas com Leila, a essa altura do campeonato, eram semanais, para compensar a falta de contato no início do pré-natal e para mapear com precisão a evolução da gravidez. Ela fez propaganda do meu colo “macio” e “apagado” para várias conhecidas minhas, e a três semanas do parto eu já tinha mais de dois centímetros de dilatação. Escrevi meu plano de parto, ousando verbalizar meus desejos a respeito dos procedimentos. Preparei as malas e uma lista de telefones e instruções para Leo, pensando que ficaria desesperado no dia, sem condições de tomar nenhuma decisão. Sem que ele soubesse, falei com Dan, que se dispôs a ser minha doula, e pedi para que assim que o trabalho de parto começasse, estivesse conosco o mais cedo possível, já que se tratava de dois marinheiros de primeira viagem sem muito suporte familiar nem transporte. Eu tinha medo inclusive da pressão dele subir, no meio do processo.

Pois no domingo, sete de outubro, com 40 semanas de gestação completas e após alguns alarmes falsos mal-interpretados pela novata no assunto, começaram realmente as primeiras contrações. Era madrugada, e cutuquei Leo. “Minha barriga está doendo”. Calado estava, calado ficou. “Leo, tá doendo”, insisti. “Já estourou alguma coisa?”, quis saber ele. Diante da negativa, virou de lado e dormiu. E eu fiquei até de manhã, tentando contar o período entre as contrações, esperando dar uma hora decente pra ligar e avisar a Dan, Leila, Melania e Thay, que também se ofereceu para ser minha doula.

A chegada

Por Mariana Mesquita - http://estadointeressado.blogspot.com.br/2007/11/tomei-um-banho-maravilhoso-de-chuva-na.html
 
Tomei um banho maravilhoso de chuva, na véspera do dia em que meu filho nasceu. As contrações, ainda leves, vinham acontecendo desde a madrugada de domingo, e na manhã da segunda Dan passou lá em casa e verificou que o trabalho de parto ainda não estava engrenado de verdade. Ela foi embora, e as contrações também... E então, à noitinha, eu e Leo resolvemos ajudar no processo: namoramos, bebi chá de canela e, seguindo conselho de Dan, fomos passear na praça de Casa Forte. Depois de dar uma única voltinha, a chuva começou a cair bem forte, logo na hora em que passei junto da árvore de mamãe. Leo ficou preocupado, querendo andar rápido – e eu querendo ir devagar, sentindo que era uma preparação, que não era só meu corpo que estava sendo lavado. Um vigia de prédio ainda acenou pra mim, oferecendo abrigo, mas o que eu queria era realmente me encharcar daquela água.

Dan voltou e passou a noite conosco, e ninguém dormiu direito. O que eu sentia mais eram as costas, e ficar deitada quando a dor vinha era quase insuportável. Ela e Leo se revezavam nas massagens, um alívio providencial. Avisamos a Leila e a Thayssa, e na manhãzinha da terça-feira elas chegaram, por volta das sete horas. Depois de um toque, viram que o processo estava bem encaminhado e seguimos para o hospital De Ávila. Cerca das nove da manhã, eu já tinha oito centímetros de dilatação e estava me sentindo tranqüila. Leo também parecia ótimo - aliás, talvez pelo fato de se sentir confiante na equipe médica, ficou sereno durante o processo todo, coisa que me surpreendeu.

Eu tinha várias fantasias ruins sobre como seria a internação: pensava em dificuldades, que não ia ter vaga... E pensava também que seria proibida de parir usando recursos mais humanizados de parto, como infelizmente tem acontecido em outros hospitais do Recife. Mas a equipe do De Ávila surpreendeu a todos nós: me recebeu sem problemas, apesar das confusões com meu antigo plano de saúde, e deixou que se instalasse uma piscina inflável em pleno quarto, sem que eu precisasse ir para a sala de cirurgia. De repente, eu tinha a possibilidade de ter o parto dos meus sonhos: na água, com uma equipe médica em quem eu confiava, e com a presença não de uma, mas de duas doulas!

Piscina cheia de água quente, lençol verde quebrando a luz da janela, e até um cedezinho de fundo, tocando no laptop de Melania... Entrei sozinha n’água, pensando que Leo ajudaria do lado de fora – mas ele, por inveja ou esperteza, enfiou-se n’água também, de cuecas - afinal, eu não era o único ser grávido daquela sala, ora!

Aí, veio o medo.

Medo de não dar conta.

Medo de não conseguir fazer força com a barriga e expulsar o bebê.

Engraçado: eu não tinha medo da dor em si, de “não agüentar o sofrimento”, como muitas mulheres alegam.

Meu medo era reflexo de tudo que me foi dito ao longo da gravidez, e por mais que racionalmente eu soubesse que não era verdade, meu inconsciente acreditava que eu era imperfeita e sem condições de parir uma criança.

Senti uma falta enorme, aguda, de minha avó e minha mãe, sabendo que aquele momento era uma passagem para uma condição diferente, e que não teria comigo a presença física delas. Minha mãe me disse uma vez que jamais deixaria um filho dela sozinho, sentindo medo... Mas onde estava ela agora, de onde eu ia tirar forças?

Tive vontade de chorar e não consegui, o desespero não deixava.

Comecei a ficar irritada com as pessoas ao meu redor, não queria que ninguém me tocasse na hora da dor, pedi para desligarem a música, e apesar de cercada por cinco pessoas atentas às minhas reações, creio que nunca me senti tão sozinha. Essa “travada” demorou um bocado: Antonio só nasceu no fim da tarde.

O cansaço de estar efetivamente sem comer nem dormir direito desde domingo – e dormindo mal já durante vários dias, sem achar posição confortável por causa da barriga – acabou vencendo e me ajudou a entrar numa espécie de transe. Eu já não sabia direito onde estava, e entre uma contração e outra, cochilava apoiada na borda da piscina.

Num dado momento, Leila quis fazer um toque e saí da água. Não lembro se depois voltei ou se foi aí que Melania sugeriu que eu experimentasse o banquinho, para ficar de cócoras. Concordei, embora a idéia de que o filhote nascesse na água fosse mais poética...
Leo sentou por trás de mim, no banquinho de parto, e as quatro ficaram na frente, nas posições mais variadas, tentando achar espaço no quarto que estava meio apertado (Leila mesma ficou espremida embaixo de uma pia). Eu sentia a dor, mas continuava achando que não ia conseguir (!).

Comecei a gritar alto, até ficar rouca, e creio que muita gente no hospital achou que eu estava morrendo, reforçando a impressão de que parto normal, e ainda por cima “a cru”, é algo excruciante. Só depois, nas fotos, vi a cara preocupada da pediatra de plantão, que certamente não tem muita vivência neste tipo de parto...

Os berros eram mais de pânico que de dor, mas eu não sabia disso naquele momento. Curioso é que, em momento nenhum, pedi ou achei que precisasse de anestesia.

Uma hora alguém disse que a cabecinha dele estava aparecendo, e eu não acreditei (!). Tentaram me mostrar com um espelho, e eu já meio desesperada com a dor das contrações e do tal “círculo de fogo”, não consegui ver nada. Até que tiraram uma foto e vieram me mostrar. Foi o suficiente para eu focar na expulsão e, algumas contrações depois, meu filho pulou de dentro de mim, escorregadio e todo sujinho de vérnix. Eram quatro e doze da tarde do dia nove de outubro de 2007.

A dor passou instantaneamente.

Eu, feito bicho, segurei meu filhotinho e fiquei cheirando e beijando aquela coisinha minúscula por um tempo que não sei precisar. Não contei os dedos dele para ver se estava tudo certo, como as pessoas dizem que as mães fazem. Eu só queria olhar a carinha dele, senti-lo perto do meu coração.

Entre uma lágrima e outra, apoiada no peito de Leo, passei a mão no cordão umbilical e me assombrei com a grossura daquilo e com o fato de que continuava pulsando, levando sangue, alimento, de mim para meu filho. De uma forma indissolúvel, nós dois éramos uma coisa única.

Senti como que um atordoamento lúcido, uma sensação concreta de que eu era mãe, mulher, poderosa: igual a qualquer mamífera, e ao mesmo tempo, especial e abençoada. Duvido que alguém consiga expor em palavras a sensação que é, fisiológica e psicologicamente, passar por um parto sem intervenções. Não digo que quem fez cesárea seja menos mãe, mas deixa de sentir essa avalanche de hormônios e sentimentos.
 
Leo, abraçado a nós, também foi envolvido nesse turbilhão, e resplandecia. Ele, que engordou e teve desejos durante a gravidez, foi ao berçário aprender a trocar fraldas e só não deu de mamar porque até agora os peitos dele não jorraram leite...

Não senti qualquer dor quando a placenta foi expulsa, mal me dei conta. Só olhava para Antonio, meu filho, meu. Aconchegado nos meus braços e mamando com força. Ele nasceu com uma marquinha vermelha na testa, sinal que deve sumir gradativamente ao longo dos meses e que parece uma borboleta, um coração, um anjo. E também com um dentinho incisivo, coisa que eu nunca tinha visto mas que, segundo disse a pediatra, não significa nenhum problema.

Leo cortou o cordão umbilical, Antonio berrou protestando, e quando a pediatra pediu licença para pesá-lo e avaliá-lo, sem sair do quarto, deixei-o nas mãos do pai e fui andando, sozinha, para o banheiro, e tomei uma ducha.

Não precisei de episiotomia (“pique”) nem de pontos. Não tive laceração significativa, apesar do meu meninão ter medido 54cm e pesado 3,860 kg. Antonio não foi aspirado, não sofreu nenhuma manipulação invasiva, não foi levado para o berçário e ficou direto conosco, no quarto onde nasceu.

Depois que as médicas foram embora, e que minha prima Dione veio me visitar, por volta das 19h, tive um “passamento”, por assim dizer. Senti como se tivesse uma placenta extra a ser expulsa, e na verdade tive um hematoma na vulva, coisa inevitável e rara de acontecer. Graças a Deus não fiz uma cesárea, porque senão ia ter perdido ainda mais sangue e a coisa ia ficar mais feia: fui ao banheiro e tive uma hemorragia enorme; só deu tempo de ligar para Leila e falar o que estava sentindo, antes de derrubar o celular no chão. Fiquei cinza, inconsciente, e depois soube que minha taxa de hemácias tinha caído para um terço do nível normal (eu já tinha uma anemia séria e crônica, anterior ao parto). Foi um choque feio e a sensação que Leo teve é de que eu ia morrer.

Não lembro de nada direito, apenas que minha prima ficou meio desesperada e que Leila e Melania voltaram para o hospital, para tomar as devidas providências (acabei tendo que receber três bolsas de sangue). Nada do que disse ou que me disseram ficou gravado em minha memória. Mas, já mais tarde, quando eu estava meio dormindo, Leo afastou-se (entrou no banheiro) e eu tive a nítida sensação de que havia alguém dentro do quarto, me olhando. Comentei com ele e a impressão que tivemos foi a mesma: é provável que ela estivesse comigo. Eu não poderia mesmo estar sozinha numa hora dessas.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Ishtar - Espaço para Gestantes (Recife) convida para o próximo encontro do grupo, no dia 08/12/2012.
O tema do nosso bate-papo será: “Higiene e sono dos bebês"
Que cuidados devemos ter com a higiene do recém-nascido? Fraldas de pano: uma alternativa viável? Como lidar com o sono do bebê? Ele dorme direto ou acorda várias vezes à noite? Dorme pouco/muito durante o dia? Onde o bebê deve dormir?
Contamos com a sua presença para enriquecer o nosso debate!
Lembrando: Participe do BANCO DE VIDROS DO ISHTAR (parceria com o Grupo “Grávidas e Mamães do Recife” - Facebook). uma iniciativa voluntária, que visa auxiliar as mulheres na manutenção da amamentação através de doações e empréstimo de vidros adequados ao armazenamento e pasteurização de leite materno.
Data:    08 de dezembro de 2012
Horário: 10:00 às 12:30
Local:   Mezanino da Livraria Cultura Recife, Paço Alfândega, Bairro do Recife.


******** Ishtar News ********
Olá, gostaria de saber se isso vai se prolongar muito. Minha filha já está assim desde os cinco meses. Agora tem nove e não dorme mais do que três hora seguidas. Há noites que desperta a cada hora. É desesperador. Ela dorme no peito e depois a coloco no berço. Quando acorda a primeira vez, levo para a cama comigo, porque se não, seria impossível para mim. Rapidamente ela dorme, mas não entendo porque desperta tanto. O senhor poderia esclarecer porque ela tem que se despertar tanto? Que devo fazer? Tentei utilizar o “nana nenê”, mas foi um desastre, daí que não sei por onde começar. 

Resposta do Dr. Carlos González: 

Querida amiga:

Na verdade, os bebês a partir dos 4 ou 5 meses começam a acordar muitas vezes à noite. Alguns apenas se acordam três ou quatro vezes por noite, mas posso afirmar que 6 ou 7 vezes não incomum. Fazem isso porque estão ficando independentes, porque já não esperam passivamente que a mãe venha cuidar deles, tornam-se, então, parte ativa no processo, e se tornam responsáveis por vigiar sua mãe, para assegurar que ela não foi embora. A cada hora, ou cada hora e meia, passam por um despertar parcial, uma fase de sono muito leve, na qual qualquer situação de perigo potencial termina por despertá-los. 

Nós, adultos, também temos esses momentos de despertar parcial: às vezes olhamos o despertador, são cinco horas e voltamos a dormir. Muitas vezes não nos lembramos de termos acordado, mas o fazemos. Se em algum desses momentos notamos que há um cheiro a queimado, ou há ruídos estranhos, ou nosso filho está vomitando, nos despertamos completamente. Se não há nenhum perigo, voltamos a dormir e, muitas vezes, nem lembramos. 

Os bebês não se importam nem um pouco com o cheiro de queimado ou se entraram ladrões em casa. O que importa para eles é se a mamãe está ou não. Se está, ela se encarregará de tudo. Se não está, terá de chamá-la, até que volte. Por isso dorme facilmente quando está na sua cama; a maioria das mães sequer se despertam completamente e, pela manhã, não se lembram se seu filho mamou três ou sete vezes naquela noite. 

Quando sua filha seja capaz de compreender “mamãe não está aqui, mas está no quarto do lado, ou na cama do lado, e não foi embora, e amanhã vestirá você e dará beijinhos"), será capaz de não chamá-la cada vez que se acorde. Mas, por enquanto, não pode. Para ela não há meios termos. Ou mamãe está aqui, e a estou tocando ou, melhor ainda, chupando, ou não está, e não sei se voltará algum dia. Entre os dois e três anos, geralmente, começam a chamar a mãe cada vez menos, e a partir dos três anos (isso é muito variável, claro), costumam dormir direto na maioria das noites ("dormir direto" ou, mais exatamente, despertar parcialmente e voltar a dormir sem chorar). 

De hoje até esse momento, o importante é que você a coloque para dormir. Que você tente continuar a dormir, aconteça o que acontecer, e que ela mesma se encarregue de buscar o peito. E que vocês se organizem para dormir como seja mais confortável para vocês. Muitas vezes o que mais esgota a mãe não é tanto o fato do bebê se despertar, mas sim de ela achar que é obrigada a acordar, a fazer “algo” para fazer com que o bebê durma, colocar para arrotar depois de mamar, ou a colocá-la em outro quarto, mesmo que isso seja muito mais incômodo para todos, porque ela vai passar a noite toda viajando de um quarto a outro.

Fonte: http://www.mibebeyyo.com/expertos-especialistas/otros-medicos/carlos-gonzalez-pediatra/hija-despierta-noche-3535
Tradução: Nélia de Paula - Organizadora do Ishtar-Recife e Tradutora Pública e Intérprete Comercial de Espanhol.